sábado, 23 de julho de 2011

GLOSSÁRIO

Def. Sensibilidade
·         A capacidade de receber representações (receptividade), graças à maneira como somos afetados pelos objetos, denomina-se sensibilidade.
Def. Sensação
·         O efeito de um objeto sobre a capacidade representativa, na medida em que por ele somos afetados, é a sensação.
Def. Intuição empírica
·         A intuição que se relaciona com o objeto, por meio de sensação, chama-se empírica.
Def. Fenômeno
·         O objeto indeterminado de uma intuição empírica chama-se fenômeno.
Def. Matéria
·         Dou o nome de matéria ao que no fenômeno corresponde à sensação; ao que, porém, possibilita que o diverso do fenômeno possa ser ordenado segundo determinadas relações ¹ dou o nome de forma do fenômeno.
Def. Forma
·         Dou o nome de matéria ao que no fenômeno corresponde à sensação; ao que, porém, possibilita que o diverso do fenômeno possa ser ordenado segundo determinadas relações ¹ dou o nome de forma do fenômeno.
Def. Representação pura
·         Chamo puras (no sentido transcendental) todas as representações em que nada se encontra que pertença à sensação.
Def. Espaço como extensão e figura .
·         Assim, quando separo da representação de um corpo o que o entendimento pensa dele, como seja substância, força, divisibilidade, etc., e igualmente o que pertence à sensação, como seja [A 21]  impenetrabilidade, dureza, cor, etc., algo me resta ainda dessa intuição empírica: a extensão e a figura. Estas pertencem à intuição pura, que se verifica a priori no espírito, mesmo independentemente de um objeto real dos sentidos ou da sensação, como simples forma da sensibilidade.
Def. Estética transcendental
·         Designo por estética * transcendental uma ciência de todos os princípios da sensibilidade a priori. Tem que haver, pois, uma tal ciência, que constitui a primeira parte da teoria transcendental dos [B 36] elementos, em contraposição à que contém os princípios do pensamento puro e que se denominará lógica transcendental.
Def. Verdade
·         A definição nominal do que seja a verdade, que consiste na concordância do conhecimento com o seu objeto, admitimo-la e pressupomo-la aqui; pretende-se, porém, saber qual seja o critério geral e seguro da verdade de todo o conhecimento.
·         (...) Se a verdade consiste na concordância de um conhecimento com o seu objeto, esse objeto tem, por isso, de distinguir-se de outros; pois um conhecimento é falso se não concorda com o objeto a que é referido, embora contenha algo que poderia valer para outros objetos.
Def. Verdade como correspondência (relação ao objeto)
·         (A relação ao objeto – correspondência – é a condição de possibilidade do critério geral da verdade) Ora, um critério geral da verdade seria aquele que fosse válido para todos os conhecimentos, sem distinção dos seus objetos. É, porém, claro, que, abstraindo-se nesse critério de todo o conteúdo do conhecimento (da relação ao objeto) e [A 59] referindo-se a verdade precisamente a esse conteúdo, é completamente impossível e absurdo perguntar por uma característica da verdade desse conteúdo dos conhecimentos e, portanto, é impossível apresentar um índice suficiente e ao mesmo tempo universal da verdade.
Def. Verdade Formal ou critério negativo de verdade
·         (Verdade como concordância do conhecimento – juízo - com sua forma lógica) Como acima já designamos por matéria o conteúdo de um conhecimento, teremos de dizer: não se pode exigir nenhum critério geral da verdade do conhecimento, quanto à matéria, porque tal seria, em si mesmo, contraditório.
No que respeita, porém, ao conhecimento, considerado simplesmente segundo a mera forma (pondo de parte todo o conteúdo), é igualmente claro que uma lógica, na medida em que [B 84] expõe as regras gerais e necessárias do entendimento, deverá nessas mesmas regras expor critérios de verdade. Tudo o que os contradiga é falso, porque o entendimento assim estaria em contradição com as regras gerais do seu pensamento e, portanto, consigo mesmo. Estes critérios referem-se, todavia, apenas à forma da verdade, isto é, do pensamento em geral e, como tais, são certos, mas não suficientes. Porque, embora um conhecimento seja perfeitamente adequado à forma lógica, isto é, não se contradiga a si próprio, pode todavia estar em contradição com o objeto. Assim, o critério puramente lógico da verdade, ou seja, a concordância de um conhecimento com as leis gerais e formais do entendimento e da razão, é uma [A 60] conditio sine qua non, por conseguinte a condição negativa de toda a verdade; mas a lógica não pode ir mais longe, e quanto ao erro que incida, não sobre a forma, mas sobre o conteúdo, não tem a lógica pedra de toque para o descobrir.
Def. Entendimento
·         O entendimento foi definido acima, apenas negativamente, como faculdade não sensível do conhecimento. Ora, independentemente da sensibilidade, não podemos participar em nenhuma [A 68] intuição. O entendimento não é, pois, uma faculdade de intuição.
Def. Entendimento como conhecimento por conceitos
·         Fora da [B 93] intuição, não há outro modo de conhecer senão por conceitos. Assim, o conhecimento de todo o entendimento, pelo menos do entendimento humano, é um conhecimento por conceitos, que não é intuitivo, mas discursivo.
Def. Conceito
·         Todas as intuições, enquanto sensíveis, assentam em afecções e os conceitos, por sua vez, em funções.
Def. Função
·         Entendo por função a unidade da ação que consiste em ordenar diversas representações sob uma representação comum.
Def. Conceitos como função
·         Os conceitos fundam-se, pois, sobre a espontaneidade do pensamento, tal como as intuições sensíveis sobre a receptividade das impressões.
Verdade negativa como pedra de toque negativa do conhecimento
·         Ora a lógica geral resolve nos seus elementos todo o trabalho formal do entendimento e da razão e apresenta-os como princípios de toda a apreciação lógica do nosso conhecimento. Esta parte da lógica pode pois chamar-se analítica e é, por isso mesmo, a pedra de toque, pelo menos negativa, da verdade, na medida em que, primeiramente, comprovar e avaliar com base nestas regras, todo [B 85]o conhecimento, quanto à sua forma, antes de investigar o seu conteúdo para descobrir se em relação ao objeto contém uma verdade positiva.
Verdade positiva como verdade material ou objetiva
·         Como, porém, a simples forma do conhecimento, por mais que concorde com as leis lógicas, é de longe insuficiente para constituir a verdade material (objetiva) do conhecimento, ninguém pode atrever-se a ajuizar dos objetos apenas mediante a lógica, e a afirmar seja o que for antes de sobre eles ter colhido, fora da lógica, uma informação aprofundada, para depois tentar simplesmente a sua utilização e conexão num todo coerente, segundo as leis lógicas ou, melhor ainda, para os examinar em função destas leis.
Diferença entre sensibilidade e entendimento
·         Por intermédio, pois, da sensibilidade são-nos dados objetos e só ela nos fornece intuições; mas é o entendimento que pensa esses objetos e é dele que provêm os conceitos.
A origem a posteriori da matéria do fenômeno e a origem a priori de sua forma
·         Uma vez que aquilo, no qual as sensações unicamente se podem ordenar e adquirir determinada forma, não pode, por sua vez, ser sensação, segue-se que, se a matéria de todos os fenômenos nos é dada somente a posteriori, a sua forma deve encontrar-se a priori no espírito, pronta a aplicar-se a ela e portanto tem que poder ser considerada independentemente de qualquer sensação.

Referência do juízo ao objeto
·         Sejam quais forem o modo e os meios pelos quais um conhecimento se possa referir a objetos, é pela intuição que se relaciona imediatamente com estes e ela é o fim para o qual tende, como meio, todo o pensamento. Esta intuição, porém, apenas se verifica na medida em que o objeto nos for dado; o que, por sua vez, só é possível, [pelo menos para nós homens,] se o objeto afetar o espírito de certa maneira.
·         (...) contudo, o pensamento tem sempre que referir-se, finalmente, a intuições, quer diretamente (directe), quer por rodeios (indirecte) [mediante certos caracteres] e, por conseguinte, no que respeita a nós, por via da sensibilidade, porque de outro modo nenhum objeto nos pode ser dado.
A noção de objeto referido
·         (como “matéria”pertencente à sensação (impenetrabilidade, dureza, cor, etc...) Assim, quando separo da representação de um corpo o que o entendimento pensa dele, como seja substância, força, divisibilidade, etc., e igualmente o que pertence à sensação, como seja [A 21]  impenetrabilidade, dureza, cor, etc., algo me resta ainda dessa intuição empírica: a extensão e a figura. Estas pertencem à intuição pura, que se verifica a priori no espírito, mesmo independentemente de um objeto real dos sentidos ou da sensação, como simples forma da sensibilidade.

DEFINIÇÕES IMPORTANTES: SENSIBILIDADE; SENSAÇÃO; INTUIÇÃO EMPÍRICA; FENÔMENO; MATÉRIA; FORMA; REPRESENTAÇÃO PURA; ESPAÇO; ESTÉTICA TRANSCENDENTAL

Estética transcendental
Sejam quais forem o modo e os meios pelos quais um conhecimento se possa referir a objetos, é pela intuição que se relaciona imediatamente com estes e ela é o fim para o qual tende, como meio, todo o pensamento. Esta intuição, porém, apenas se verifica na medida em que o objeto nos for dado; o que, por sua vez, só é possível, [pelo menos para nós homens,] se o objeto afetar o espírito de certa maneira. A capacidade de receber representações (receptividade), graças à maneira como somos afetados pelos objetos, denomina-se sensibilidade. Por intermédio, pois, da sensibilidade são-nos dados objetos e só ela nos fornece intuições; mas é o entendimento que pensa esses objetos e é dele que provêm os conceitos. Contudo, o pensamento tem sempre que referir-se, finalmente, a intuições, quer diretamente (directe), quer por rodeios (indirecte) [mediante certos caracteres] e, por conseguinte, no que respeita a nós, por via da sensibilidade, porque de outro modo nenhum objeto nos pode ser dado.
[B 34] O efeito de um objeto sobre a capacidade representativa, na medida em que por ele somos afetados, é a sensação. A intuição que se relaciona com o objeto, por meio de sensação, chama-se empírica. O objeto indeterminado de uma intuição empírica chama-se fenômeno.
Dou o nome de matéria ao que no fenômeno corresponde à sensação; ao que, porém, possibilita que o diverso do fenômeno possa ser ordenado segundo determinadas relações ¹ dou o nome de forma do fenômeno. Uma vez que aquilo, no qual as sensações unicamente se podem ordenar e adquirir determinada forma, não pode, por sua vez, ser sensação, segue-se que, se a matéria de todos os fenômenos nos é dada somente a posteriori, a sua forma deve encontrar-se a priori no espírito, pronta a aplicar-se a ela e portanto tem que poder ser considerada independentemente de qualquer sensação. Chamo puras (no sentido transcendental) todas as representações em que nada se encontra que pertença à sensação. Por conseqüência, deverá encontrar-se absolutamente a priori no espírito a forma pura das intuições sensíveis em geral, na qual todo o diverso dos fenômenos se intui em determinadas condições. Essa forma [B 35] pura da sensibilidade chamar-se-á também intuição pura. Assim, quando separo da representação de um corpo o que o entendimento pensa dele, como seja substância, força, divisibilidade, etc., e igualmente o que pertence à sensação, como seja [A 21] impenetrabilidade, dureza, cor, etc., algo me resta ainda dessa intuição empírica: a extensão e a figura. Estas pertencem à intuição pura, que se verifica a priori no espírito, mesmo independentemente de um objeto real dos sentidos ou da sensação, como simples forma da sensibilidade.
Designo por estética * transcendental uma ciência de todos os princípios da sensibilidade a priori. Tem que haver, pois, uma tal ciência, que constitui a primeira parte da teoria transcendental dos [B 36] elementos, em contraposição à que contém os princípios do pensamento puro e que se denominará lógica transcendental.

Estética Transcendental - O Tempo

Antes de abordarmos sobre o tempo, deve-se relembrar que ele, juntamente com o espaço, é uma das formas puras da sensibilidade, portanto fazem parte da estética transcendental. Não sendo empírico, mas "a priori" - universal e necessário.

O tempo não é um conceito empírico, ou seja, não deriva de qualquer experiência.

Os princípios do tempo nos instruem antes da experiência e não mediante a experiência, pois não é necessário a experiência, mas a possibilidade que ela proporcionou em fazer o tempo, como forma pura da sensibilidade, ser conhecido enquanto uma das estruturas necessárias e universais da razão.

Os princípios do tempo são a sucessividade e a simultaneidade

O tempo sucessivo é entendido como aquele que proporciona a existência a algum fenômeno, ou seja, a partir do momento em que um fenômeno nos é apresentado, o tempo impõe a sucessividade fazendo com que o fenômeno permaneça sendo o mesmo, durante um dado período temporal, ou seja, em tempos diferentes.

Não importa a mudança física, pois a permanência não está relacionada ao que é empírico, como na imagem abaixo, mas a ontologia, a existência em tempos diferentes é o que importa.

Lembrando que na imagem abaixo devemos analisar como sendo a mesma pessoa em tempos diferentes.

Tempo Sucessivo
O tempo simultâneo é aquele em que alguns fenômenos são apresentados instantaneamente, fazendo o tempo impôr existência a mais de um fenômeno durante um só e mesmo tempo.

A imagem abaixo deve ser analisada como algo simultâneo, a existência instantânea de todos os fenômenos representados pela nossa intuição.
Tempo Simultâneo
Portanto o tempo é a própria base existencial de um fenômeno, sem o qual o fenômeno não poderia ser. Pois Kant afirma que "Estes princípios valem, por conseguinte, como regras, as únicas que em geral possibilitam as experiências e, como tal, nos instruem antes de tais experiências, não mediante estas."

O tempo é uma representação necessária que constitui o fundamento de todas as intuições. Somente nele é possível a realidade, a existência dos fenômenos.

Kant demonstra que "A infinitude do tempo nada mais significa que qualquer grandeza determinada de tempo é somente possível por limitações de um tempo único, que lhe serve de fundamento. Portanto, a representação originária do tempo terá de ser dada como ilimitada. Sempre que, porém, as próprias partes e toda a magnitude de um objeto só possam representar-se de uma maneira determinada por limitação, a sua representação integral não tem que ser dada por conceitos, (pois estes só contêm representações parciais); é preciso que haja uma intuição imediata que lhes sirva de fundamento."

Quanto ao conceito de mudança e movimento Kant aborda da seguinte maneira "Aqui acrescento apenas que o conceito de mudança e com ele o conceito de movimento (como mudança de lugar) só é possível na representação do tempo e mediante esta; se esta representação não fosse intuição (interna) a priori, nenhum conceito, fosse ele qual fosse, permitiria tornar inteligível a possibilidade de uma mudança, isto é, a possibilidade de uma ligação de predicados contraditoriamente opostos num só e mesmo objeto (por exemplo, a existência de uma coisa num lugar e a não existência dessa mesma coisa no mesmo lugar). Só no tempo, ou seja, sucessivamente, é que ambas as determinações, contraditoriamente opostas, se podem encontrar numa coisa."

O tempo é apenas uma forma do sentido interno, ou seja, uma forma pura da sensibilidade. Assim o tempo não pode ser uma determinação dos fenômenos externos, mas a relação das representações no nosso estado interno. Por isso quando o fenômeno nos é apresentado, temos a noção do que ele é, enquanto representado a nós a partir da espacialidade e da temporalidade que são internas e puras à nossa razão. Além de serem "a priori" - necessárias e universais, portanto uma base estrutural e fundamental da representação dos fenômenos enquanto nossa estrutura (espaço/tempo) é capaz de absorver ou de sentir racionalmente (sensibilidade da razão).

Desta forma o tempo não é uma linha em que traçamos os períodos da história ou da humanidade, mas essa linha é apenas uma analogia que procuramos suprir pela falta de uma imagem do tempo na nossa intuição interna.

Kant: "Se posso dizer a priori: todos os fenômenos exteriores são determinados a priori no espaço e segundo as relações do espaço, posso igualmente dizer com inteira generalidade, a partir do princípio do sentido interno, que todos os fenômenos em geral, isto é, todos os objetos dos sentidos, estão no tempo e necessariamente sujeitos às relações do tempo."

"O tempo é, pois, simplesmente, uma condição subjetiva da nossa (humana) intuição (porque é sempre sensível, isto é, na medida em que somos afetados  pelos objetos) e não é nada em si, fora do sujeito."

Por isso podemos dizer que o tempo, apesar de não ter necessidade empírica, só é objetivo quando um fenômeno nos é apresentado, devido a sua "posição" em nossa razão, ou seja, é uma das formas puras da sensibilidade, que trabalha apenas quando somos afetados pelos objetos, mas mesmo quando o tempo é afetado pelos objetos, ele é interno e não algo fora do sujeito. Portanto se nenhum objeto nos é apresentado, o tempo é subjetivo na nossa intuição interna, à espera de um fenômeno para sua atuação, mas não à espera do fenômeno para a sua própria existência, pois ele já é um fundamento da nossa sensibilidade racional. A ideia em relação à espera de um fenômeno é no que diz respeito a um fenômeno específico, pois sabemos que nos deparamos com fenômenos a cada momento em nossas vidas.

"E, como a nossa intuição é sempre sensível, nunca na experiência nos pode ser dado um objeto que não se encontre submetido à condição do tempo. Contrariamente, impugnamos qualquer pretensão do tempo a uma realidade absoluta, como se esse tempo, sem atender à forma da nossa intuição sensível, pertencesse pura e simplesmente às coisas, como sua condição ou propriedade. Tais propriedades, que pertencem às coisas em si, nunca nos podem ser dadas através dos sentidos. Nisto consiste pois a idealidade transcendental do tempo, segundo a qual o tempo nada é, se abstrairmos das condições subjetivas da intuição sensível e não pode ser atribuído aos objetos em si (independentemente da sua relação com a nossa intuição), nem a título de substância nem de acidente."


Desta forma, o tempo não pertence às coisas, mas é uma forma pura da sensibilidade, é como se o fenômeno servisse de ponte para conhecermos o que há de interno na nossa razão, que nesse caso é o próprio tempo. Portanto quando lidamos com que há de interno (subjetivo) na razão, Kant chama de idealidade transcendental, que é o próprio conhecimento da nossa capacidade de conhecer, ou seja, o conhecimento do que é puro e não empírico na nossa razão.